Lembrei há pouco uma canção do menestrel Elomar chamada “Calundu e Cacoré”. Para quem não sabe são duas palavras indígenas que guardam uma contiguidade entre si: “calundu” significa raiva, “enfezação”, revolta introvertida. Já “cacoré” é a consubstanciação do calundu, o ato de transformar o calundu em substância, dar materialidade. Um exemplo: o cidadão descobre que sua esposa está saindo com seu melhor amigo, aquilo transforma-se num calundu, ele fica cismado remoendo a situação num canto qualquer, triste, com raiva, até que resolve acabar com tudo, vai lá, encontra o casal e no cacoré comete o trágico ato de atirar em ambos e depois em si mesmo. A esquerda nos últimos vinte anos resumiu-se a criar calundu e tentar transformar em carcoré. Nunca vi tanta gente enfezada, irritada, revoltada na minha vida. O mundo é cruel injusto e incorrigível e igualmente vazio, triste e perverso. Um colega da Casa do Estudante da UFPE, nos tempos do Regime Militar, falou que a ditadura estava em tod...
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