O CALUNDU E CACORÉ DE ESQUERDA

Lembrei há pouco uma canção do menestrel Elomar chamada “Calundu e Cacoré”. Para quem não sabe são duas palavras indígenas que guardam uma contiguidade entre si: “calundu” significa raiva, “enfezação”, revolta introvertida. Já “cacoré” é a consubstanciação do calundu, o ato de transformar o calundu em substância, dar materialidade. Um exemplo: o cidadão descobre que sua esposa está saindo com seu melhor amigo, aquilo transforma-se num calundu, ele fica cismado remoendo a situação num canto qualquer, triste, com raiva, até que resolve acabar com tudo, vai lá, encontra o casal e no cacoré comete o trágico ato de atirar em ambos e depois em si mesmo.
A esquerda nos últimos vinte anos resumiu-se a criar calundu e tentar transformar em carcoré. Nunca vi tanta gente enfezada, irritada, revoltada na minha vida. O mundo é cruel injusto e incorrigível e igualmente vazio, triste e perverso.
Um colega da Casa do Estudante da UFPE, nos tempos do Regime Militar, falou que a ditadura estava em todos os lugares e que era invencível, eu respondi que se realmente fosse invencível estávamos derrotados e nossa luta era vazia, ele retrucou dizendo que nosso papel era de resistência. Brinquei afirmando que o diabo era resistência a Deus e arranjei um inimigo, até hoje.
A estratégia “gramsciana” de criar um grande caroré por intermédio da união de pequenos calundus localizados em setores propícios ao calundu é cruel, triste, vazia, propícia a injustiça e perversa. Não quero isso para mim.
A promessa do marxismo é outra e não um cacoré. É a construção de uma sociedade nova, um novo homem, um fazer-se maravilhoso. Recentemente fiquei sabendo que no pós-guerra foram produzidos na URSS sessenta milhões de apartamentos e distribuídos gratuitamente. Eram entregues completamente mobiliados e funcionais. O Brasil atualmente tem 59 milhões de famílias, seria equivalente a dar um apartamento a cada família do Brasil e ainda sobrar um milhão para o futuro. Isso sim, seria uma grande felicidade, saber que todos os brasileiros estavam bem abrigados, com água, eletricidade, escola, universidade e comida na mesa.
O resto é calundu. 

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