NÃO TIREM O MACACO, POR FAVOR.
Lembrando hoje de uma estória sobre a relação cliente-agência, que me foi contada ainda no tempo de estudante e permanece atual, para tudo.
Contam que existia em Hollywood um roteirista apaixonado pela
fábula da bela que é conquistada pela fera, do conto francês de Gabrielle-Suzanne
Barbot, que teve a ideia de fazer um roteiro para um filme de ação onde pudesse
usar as emoções criadas pela narrativa da fábula.
Montou uma história com uma bela ruiva (as ruivas sempre
fazem papeis assim) e uma fera, um imenso gorila. No lugar do palácio, uma ilha
remota do Pacífico habitada por monstros pré-históricos, e uma cena final,
idêntica à fábula, onde a fera ensandecida é abatida pelos habitantes do
vilarejo, transformado na cidade de Nova York.
O roteirista criou como quem faz uma sopa, não esquecendo
todos os ingredientes para conquistar o público: ação, aviões com
metralhadoras, bombeiros, interesses financeiros, e tudo mais. Entretanto, o
cerne da história era a antiga fábula, as emoções seriam garantidas pelo
mensagem que a mais bela das mulheres pode se apaixonar não pelo mais belo dos homens, pela beleza
exterior, mas pelo que vem do interior, do coração, dos sentimentos.
Apresentou o roteiro a muitos estúdios, até que um deles
marcou uma conversa, aceitou produzir o filme seguindo a ideia desde que ele
fizesse uma mudança:
— Esse animal é ruim para a imagem da empresa, muito rude.
Tire o macaco que faremos o filme, disse o executivo do estúdio.
— Como assim, tirar o macaco? Perguntou horrorizado o
roteirista.
Bem, outro estúdio decidiu usar o macaco e foi um filme de
sucesso chamado King Kong.
Nas relações com nossos clientes criamos ideias que seguem
essa lógica, são “macacos” sobre os quais toda a narrativa é edificada, muitas
vezes não estão explícitos e podem ser até subliminares, escondidos na criação,
mas são eles que transformam um simples anúncio em uma máquina de vendas, ou
uma candidatura em um fenômeno político.
O problema é explicar a importância do “macaco” no meio da
criação. O cliente menos habituado e despreparado, se encanta com a beleza das atrizes
(sua marca) e os outros elementos acessórios, cheios de cores e movimento.
Filmes de ação com mulheres bonitas e tiros de metralhadoras existem muitos, mas
o King Kong é único, embora tenha tudo isso.
Lidar com a frustração de “retirar o macaco” é uma das mais
traumatizantes experiências que um bom comunicador pode enfrentar.
Comentários