A RABICHOLA DE SUA MÃE


Meu pai chegou como imigrante no Rio de Janeiro em 1927, com 17 anos. Ficou lá até 1942. Trabalhou numa padaria, em Niterói, onde aprendeu o oficio de padeiro e terminou como gerente, ajudando o proprietário, um português, a dirigir o estabelecimento.
Aproveitando a oportunidade escreveu uma carta para um primo querido em Belo Jardim, Amaury de Barros Correia, para que fosse trabalhar no Rio, que garantia um emprego na padaria. O primo topou.
Chegando em Niterói, foi destacado para o posto mais baixo do estabelecimento: entregador. Usava-se, naquele tempo, uma égua que o português deu o sugestivo nome de "Sua Mãe", era apenas uma brincadeira, mas, evidentemente, tinha a função de humilhar o "pernambuco", designação genérica usada para os imigrantes da nossa terra.
O Amaury não digeriu muito bem aquela brincadeira. "Cuidado com Sua Mãe", "cuide bem de Sua Mãe", "Sua Mãe é muito preguiçosa", "Sua Mãe é namoradeira" e outras frases do mesmo quilate foram minando a paciência do rapaz até que um dia ele chegou no balcão e disse ao português:
─ Eu preciso de 200 gramas de gordura.
─ Para que queres isso Pernambuco? Respondeu o português.
─ Para passar no xibiu de Sua Mãe, pois a rabichola tá deixando em carne viva.
Foi preciso duas pessoas para sustentar o português. Quanto ao Amaury, bem, voltou para Belo Jardim e ficou por lá.

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