AS TRÊS RESPOSTAS QUE CONSTRUIRAM A MINHA FORMAÇÃO POLÍTICA
Enver Hoxha pouco antes de sua morte em 1985.
Três respostas a problemas políticos tiveram grande importância na minha formação política, elucidaram pontos centrais do posicionamento político de correntes de pensamento do meu tempo. Vou comentar cada um e tentar, quem sabe, ajudar o leitor a entender melhor o que somos hoje.
FOQUISMO
Meu primeiro posicionamento político de esquerda foi
foquista. É o mais simples, romântico e o mais ligado a nossa cultura latina. Vivíamos
num regime militar, um governo autoritário, conservador, e não parecia ser possível
mudar a situação por intermédio da luta democrática. A única perspectiva
concreta era o confronto armado. Che Guevara era uma espécie de modelo desse
tempo difícil. Tinha um modelo que qualquer pequeno grupo poderia seguir e o
pior, um exemplo de sucesso que era Cuba. O céu poderia ser tomado de assalto. Éramos
nesse tempo guerrilheiros, lutadores.
Nesse tempo entrei para a UFPE e lá tive contato com o MR8.
Era um clima de preparação para uma grande conflagração que aconteceria num
futuro próximo. Era o que eu desejava, mas, faltava algo. Falava-se de como
tomar o céu de assalto, mas não o que fazer com ele após tomá-lo. Eram apenas
afirmações genéricas e referência ao que estava sendo construído em Cuba que
não era grande coisa.
Minha atração pelo foquismo terminou no dia em que descobri
que não era um solução completa, eram apenas fragmentos desconexos. A forma de
fazer política era a mesma dos caudilhos latinos, mexicanos, cubanos, etc. O
socialismo advindo desse modelo tinha os mesmo defeitos. Deixei o foquismo de
lado.
REVISIONISMO
O primeiro e mais forte contato político que tive em minha vida foi escutando ondas curtas, na luta travada entre a Rádio Central de Moscou, a Rádio Pequim e a Rádio Tirana da Albânia. Eu escutava todos os dias, religiosamente, pelo menos três noticiários. Eram três posições políticas divergentes no campo do socialismo.
A URSS falava de paz o tempo todo, denunciava os EUA,
acusava a China de ter renegado o socialismo e ignorava solenemente a Albânia.
A China, por sua vez, denunciava a política agressiva e imperialista da URSS e
dos Estados Unidos, mas como solução mostrava o caminho chinês que era
incompreensível para mim.
A Albânia era diferente. Batia igualmente em todo mundo, mas
explicava bem as razões. Mostrava que a URSS havia abandonado o caminho do
socialismo e fazia isso com detalhes de arrepiar e com uma firmeza a toda prova.
A todo momento reforçava os conceitos de revolução, exército popular, luta
política, internacionalismo proletário e outros. Enver Hoxha denunciava o
capitalismo como responsável pelos males da sociedade e que a única ferramenta
eficiente que se tinha para combatê-lo era o partido comunista com o
marxismo-leninismo como guia, ideologia que havia sido abandonado pelos
dirigentes soviéticos após o tal XX Congresso do PCUSS e o golpe dado por Kruchev.
Sobre a China Enver dizia que nunca tinham sido comunistas e
que só esperam um bom momento para embarcar no capitalismo. Chamava o grupo
maoista de "camarilha de Pequim" e os tratava como bandidos.
Escutando a Rádio Tirana todo dia eu não poderia entrar no
PCB que era ligado a URSS e minha aproximação com o PCdoB, amigo da Albânia,
foi natural.
SOCIALDEMOCRACIA
Socialdemocracia para mim sempre foi grego. Eu era do
partido de Enver Hoxha, marxista-leninista, revolucionário, anti-revisonista,
stalinista. Confesso que só tive uma visão mais simpática da social democracia
após ler e prestar atenção a Kaustsky.
Portanto, sempre fui hostil ao PT, partido socialdemocrata
por excelência. Pior que isso, existia na legenda velhos inimigos como os trotskistas.
A antipatia era natural e foi reforçada pela luta política estudantil.
Enver Hoxha também fez um extenso trabalho sobre a
socialdemocracia como uma tentativa de salvar o capitalismo e impedir o
crescimento de idéias revolucionárias e de
libertação da Classe Operária. Tudo isso foi publicado no Brasil, pela
maravilhosa Revista Princípios do PCdoB. Eu li e concordei.
CONCLUSÃO
Após 30 anos, olhando pelo retrovisor, acho que o Enver
Hoxha acertou. A URSS era mesmo revisionista e fez o que ele previu, traiu o
socialismo. A China nunca foi socialista e a vida tem mostrado. Cuba sempre foi
um estado desligado da realidade, baseado em caudilhos e subalterno do
revisionismo. A socialdemocracia triunfou no mundo e no Brasil e isso não
significou quase nada para o socialismo ou para a libertação da Classe
Operária.
Enver Hoxha estava
certo.
Mas, o Partido Comunista do Brasil, abandonou Enver, acha
que a China constrói algo similar ao socialismo, que Cuba também faz o mesmo e
que é possível construir alguma coisa com um futuro socialista em parceria com
os sociaisdemocratas do PT no Brasil.
Enver morreu em 1985, antes da Albânia cair, mas isso não
desautoriza nada do que ele disse. Mostra apenas que é muito difícil para uma
pequena nação construir sozinha o socialismo. Apenas isso.
Revisitando Enver, acredito que não podemos
olhar o futuro sem levar em conta a opinião de pessoas como ele. É necessário
construir um novo modelo de sociedade, sim, mas sei que não pode ser foquista,
revisionista ou socialdemocrata, Enver
ensinou isso, mesmo que o modelo proposto por ele seja anacrônico e
historicamente superado.
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